terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Um novo amanhã

Rachel Naomi estava iniciando sua carreira na Medicina. A primeira pessoa que lhe coube atender foi uma viúva de 84 anos, com uma ligeira insuficiência cardíaca, nada de grave. Dra. Rachel prescreveu apenas dois medicamentos.
Em poucas semanas, a idosa não se queixou mais de falta de ar, a tolerância aos exercícios começou a melhorar e o inchaço dos tornozelos diminuiu. No mês de dezembro, Rachel a dispensou da clínica. Deu-lhe somente um medicamento para ir tomando e recomendou-lhe que voltasse em seis meses, para reavaliação.
No início de março, entretanto, a senhora retornou para a consulta. Era a terceira paciente do dia. Enquanto atendia as primeiras, Rachel pensava em que erro teria cometido, pois tinha certeza que a paciente deveria estar de novo com um quadro de insuficiência cardíaca.
Rachel entrou na sala de exames e encontrou a senhora. Percebendo o olhar de surpresa da médica, ela disse que não estava ali para um novo exame. Viera para trazer um presente para ela. E, das profundezas de sua enorme bolsa, tirou um embrulho e colocou nas mãos de Rachel. Eram quatro pequeninas flores roxas. “São ‘muscaris’. Elas renascem a cada primavera, sem falhar.
São o primeiro sinal de que a vida é mais forte do que o inverno. No outono anterior, quando senti minha própria vida se retrair, não pensei no inverno, doutora. Pensei na morte.
Lembrei-me dos muscaris e das outras flores do jardim, que retornam a cada primavera. Quando a senhora me explicou sobre a ação do medicamento que estava me receitando, fiquei descrente. A senhora é tão jovem. Quase 60 anos nos separam.
Mas agora, doutora, eu vim lhe agradecer. Obrigada por conseguir que eu visse outra primavera”, disse a viúva. Rachel ficou com o pequeno ramalhete nas mãos. Na sua mente, mil pensamentos começaram a bailar. Os seus livros de farmacologia traziam explicações sobre o modo de ação do remédio que ela prescrevera e sua dosagem.
Só não haviam ensinado que o amor pela vida, a esperança e a fé são ingredientes fundamentais para a recuperação de doenças e sofrimentos.

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