segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O sofrimento das mães

Estou escrevendo a quatro mãos um livro com o médico Lair Ribeiro; o tema são as formas de educação e comunicação entre pais e filhos adolescentes. Entrevistei diversas mães que estão sofrendo com a prisão de seus filhos, recolhidos na Febem ou em Centros de Detenção Provisória. Fundamentalmente procurei descobrir o que leva um jovem a cometer crimes. Boa parte vive em lares humildes, normalmente com famílias estruturadas e muitas delas religiosas. Durante minhas andanças, tive acesso a um manifesto de uma sofrida mãe, que me emocionou, e por isso quero compartilhar com o amigo leitor:
“Hoje vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da Febem em São Paulo, para outra Unidade da Febem, no interior do Estado. Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes da transferência. Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio de comissões, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos. Eu também sou mãe, e por isso bem posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro. Enorme é a distância que também me separa do meu filho. Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos, porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente, conto com meu inseparável companheiro, que desempenha para mim importante papel de amigo e conselheiro espiritual. Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que seu filho matou estupidamente no assalto à vídeo locadora. Ele trabalhava durante o dia como caixa para pagar os estudos que freqüentava à noite. No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo. Ah, já ia me esquecendo, pode ficar tranqüila, pois mesmo ganhando pouco, estarei contribuindo em dia com meus impostos, para pagar mais um colchão que seu querido filho queimou na última rebelião da Febem”.
O presidente dos EUA, Willian Howard Taft, estava jantando com sua família, quando o filho caçula fez uma observação desrespeitosa sobre o pai. A esposa esbravejou com o marido: “Você não vai puni-lo?”. O homem respondeu: “Se essa atitude foi-me dirigida como seu pai, certamente ele será punido. Mas, se o garoto a dirigiu ao Presidente americano, é seu direito constitucional”.

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