quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O desabafo de um jovem drogado

Estive recentemente em um evento no Rio de Janeiro. À noite, saí do hotel para um passeio pela orla de Ipanema. O mar estava calmo, a paisagem mais parecia uma pintura; casais namoravam no calçadão, um clima de alegria pairava no ar. Resolvi procurar uma cafeteria, e quando percebi já estava na Praça da Paz. Repentinamente, uma cena que contrastava com aquele cenário de felicidade me chamou a atenção. Um jovem de classe média, recostado em uma banca de jornais, passava mal. As pessoas que passavam fingiam não ver a cena chocante. Me propus a ajudá-lo. Quando olhei em seus olhos percebi que estava sob efeito de cocaína ou crack. Seu celular estava caído ao chão, assim consegui localizar o telefone da família, que logo chegou ao local. O pai, com os olhos rasos d’água, me agradeceu, não com palavras, mas com a expressão facial de um homem impotente ante o envolvimento de seu filho com as drogas. O garoto não rejeitou a ajuda paterna, com dificuldade conseguimos colocá-lo no veículo. Antes de ir embora, o menino insistiu em me dar um abraço. Olhei em seus olhos e disse: “Apegue-se a Deus, Ele vai te mostrar o caminho de volta à sua família que tanto te ama”.
Amigo leitor, durante a pesquisa que realizei para embasar meu livro localizei um texto fabuloso onde um jovem viciado, já em estado terminal, faz um desabafo aos pais:
“Não me dê tudo o que te peço. Às vezes peço apenas para saber qual é o máximo que posso obter. Não grite comigo. Respeito-te menos quando faz isso e assim você me ensina a gritar também. Não me dê sempre ordens. Se em vez de dar ordens, às vezes me pedisse as coisas com um sorriso, eu faria tudo muito mais depressa e com gosto. Cumpre as promessas, boas ou más. Se me prometeres um prêmio, dê-o; mas faz o mesmo se for um castigo. Não me compares com ninguém.Se me fizer sentir melhor que os outros, alguém irá sofrer; e se me fizer sentir pior que os outros, serei eu a sofrer. Não mude tão freqüentemente de opinião acerca daquilo que devo fazer. Decida, e depois mantenha essa decisão. Deixa-me desembaraçar sozinho. Se fizeres tudo por mim, eu nunca poderei aprender. Trata-me com a mesma amabilidade e cordialidade com que trata os teus amigos. Não me diga para fazer uma coisa que você não faz. Quando te contar um problema meu, não me diga “não tenho tempo para tolices”... Tenta compreender-me e ajudar-me. E gosta de mim. E diga-me que gosta de mim. Agrada-me ouvir-te dizer isso, mesmo que você não ache necessário dizê-lo”.

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