quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Aprendendo com a dor

Em minha última crônica, contei o drama vivido pela mãe da amiga Cláudia, que após sentir fortes dores de cabeça, foi internada às pressas, e que através de uma ressonância magnética, os médicos diagnosticaram um grave tumor em seu cérebro. Acabei de receber um telefonema dos familiares (sábado, às 10hs), noticiando que Dona Fátima tem poucas chances de vida. Gostaria de fazer uma pergunta ao amigo leitor: Qual a lição que podemos tirar do drama vivido por Dona Fátima?

O escritor Gabriel Garcia Márquez, poucos dias antes de morrer, em razão de câncer linfático, deixou um texto maravilhoso, que convida à reflexão:
“Se, por um instante, Deus me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Escutaria quando os outros falassem e degustaria um bom sorvete de chocolate.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas – te amo, te amo. Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo mundo quer viver no cume da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre.
Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo, para ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito agora que estou partindo”.

O filósofo Sócrates aguardava pacientemente sua execução na prisão. Um dia ouviu outro prisioneiro cantando difíceis versos líricos. Sócrates humildemente pediu-lhe que lhe ensinasse alguns versinhos. O preso resmungou: “Por que desejas aprender algo novo, vai ser executado daqui há poucos dias”? O filósofo concluiu: “Para que eu possa morrer sabendo uma coisa a mais”. Na verdade amigo leitor, as paredes que impedem que vivenciemos o presente não são reais, são mentais.

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