sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A doença que cura

Carlos estava próximo de comemorar meio século de existência. Com a chegada de seu aniversário, passou a ficar mais reflexivo, um tanto aéreo. Mal se alimentava, ficou fraco e veio o primeiro desmaio. Um desconhecido o levou ao pronto socorro. O médico de plantão, ao saber que o paciente não realizava check-up há mais de 5 anos, e também devido ao quadro clinico de aparente anemia, determinou imediata internação e requisitou uma série de exames, inclusive HIV. Carlos assustou-se e indagou ao médico?: “Mas por que o senhor pediu exame de AIDS pra mim”.O esculápio disse rapidamente: “Estou com pressa agora, nos vemos quando os laudos ficarem prontos”. A enfermeira, após coletar seu sangue, fechou a porta do quarto. O rapaz não conseguia dormir. Muitas coisas ruins passavam por sua mente. As primeiras horas foram terríveis, pois a possibilidade de estar contaminado o afligia. Uma série de indagações e pensamentos surgiam no ar: “Por que estou passando por isto? Será que vou morrer? O que fiz da minha vida? Ahhh se eu tivesse uma nova chance...”. Carlos acendeu o abajur, pegou um pedaço de papel e com um lápis que achou abandonado numa gaveta rascunhou: “Pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata, trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase morreu, ainda está vivo. Quem quase amou, não amou.Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos. O que me levou a escolher uma vida morna? A resposta parece difícil, mas não é; está estampada na rotina vazia do cotidiano, na frieza dos sentimentos... Sobrou covardia e faltou coragem até pra ser feliz. Deixei a vida me levar, ao invés de levar a vida que tanto almejava. A omissão não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Nem todas as estrelas estão ao nosso alcance, mas sentir-se derrotado mesmo antes de lutar é desperdiçar a oportunidade que Deus nos deu.”.No dia seguinte o médico chegou trazendo os exames, e Carlos disse: “Doutor, quantos dias ou semanas ainda tenho de vida?”. O médico respondeu: “Você está com saúde de ferro. Acho que foi o calor que te pegou”. O homem levantou da cama e bradou: “O senhor acaba de fazer um parto, me deu uma segunda chance...uma nova vida. Não importa quando tempo ainda tenho, somente quero ser o protagonista da minha estória e não um mero coadjuvante”.

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