quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Aprendendo a dar valor

Diz a lenda que no princípio do mundo o homem reclamava por estar sozinho e carente; por isso, o universo criou a mulher com vários ingredientes diferentes. Pegou a forma arredondada da lua, as suaves curvas das ondas, o trêmulo movimento das folhas, a forma esbelta da palmeira, a nuance delicada das flores, o amoroso olhar do cervo, a alegria do raio de sol e as gotas do choro das nuvens, a inconstância do vento e a fidelidade do cão, a timidez da tartaruga e a vaidade do pavão, a suavidade das penas do cisne e a dureza do diamante. Assim a mulher foi criada e apresentada ao homem. Foi paixão à primeira vista. Alguns meses se passaram e o homem primitivo passou a querê-la distante, reclamando: “Ela quer toda minha atenção, nunca me deixa sozinho, fala sem parar, chora sem motivo; não quero mais viver com ela”. Como num passe de mágica, a mulher desapareceu. Após 10 dias, o homem, sentado ao pé de uma grande árvore, choramingava a ausência de sua amada: “Puxa, estou sozinho desde que minha mulher desapareceu. Ela cantava e brincava ao meu lado, me olhava com ternura e respeito, cuidava de mim, nos momentos difíceis era ela quem me amparava, somente agora que a perdi, percebo o quanto ela me faz falta”.
Muitos casais estão brigados ou até mesmo separados, pois não souberam dar o verdadeiro valor à amizade, ao companheirismo, dedicação etc. A contradição que ronda os seres humanos é curiosa. Precisamos tanto da água para sobreviver, mas a desperdiçamos. A vegetação nos é essencial, mas a devastação das matas não cessa. Admiramos tanto a beleza do mar e o poluímos com lixo e esgotos. Gostaria de compartilhar um lindo texto de Chico Xavier, para que o amigo leitor possa refletir sobre o tema desta crônica: “Uns queriam uma refeição mais farta; outros, só uma refeição. Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver. Uns queriam pais mais esclarecidos; outros, ter pais.Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar. Uns queriam ter voz bonita; outros falar. Uns queriam silêncio; outros, ouvir. Uns queriam sapato novo; outros, ter pés. Uns queriam um carro; outros, andar. Uns queriam o supérfluo; outros, apenas o necessário”. Um rapaz cego de nascença apaixonou-se por uma garota e após poucos meses de namoro a pediu em casamento. Um colega de trabalho chamou-o para uma conversa e disse: “Preciso te avisar de um detalhe importante; sua noiva não é uma mulher bonita e exuberante, muito pelo contrário, ela é feia e desengonçada”. O cego comentou: “Uma pena que você não consiga enxergar a verdadeira beleza de uma mulher”. Para fechar o bate papo com chave de ouro, relembro um pensamento, dos mais inteligentes e verdadeiros, escrito por Shakespeare: “Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos...”.

Nenhum comentário: